A música clássica não é tão popular no Brasil, mas há duas décadas vem transformando uma grande comunidade de São Paulo.   

Em 1996, um incêndio em Heliópolis, São Paulo, devastou diversas famílias e mudou a vida de muitos jovens. Comovido com a tragédia, o músico Silvio Baccarelli pensou em uma maneira de ajudar a população local e através da música o maestro encontrou uma forma de amenizar o sofrimento dos moradores da comunidade.  

Logo após o desastre, Silvio fundou uma oficina de música com 36 crianças moradoras da comunidade. O primeiro espaço utilizado para a realização das atividades foi em uma propriedade do maestro localizada na Vila Mariana. O músico alugava um transporte que buscava as crianças no colégio Gonzaguinha e levava até a oficina de música, onde tinham aulas de instrumentos de corda. Hoje, após duas décadas deste projeto grandioso, o ensino é dividido em três etapas, o Coral da Gente, que atende crianças de 4 a 14 anos e oferece iniciação musical; a Orquestra do Amanhã, onde os jovens aprendem a utilizar instrumentos sinfônicos; a Sinfônica de Heliópolis, que realiza práticas orquestrais refinadas e tem uma agenda de shows cheia. A orquestra já se apresentou, por exemplo, em três edições de shows do Criança Esperança (2008, 2010 e 2011) e em Bonn, na Alemanha, onde participou do Festival Beethoven. 

“O objetivo principal do instituto não é ensinar música e sim auxiliar jovens em situação de vulnerabilidade social.  As aulas ajudam as crianças a desenvolverem a autoestima, a aprenderem a trabalhar em equipe e a exercitarem sua criatividade. Assim como em uma sociedade, os integrantes da orquestra exercem o seu papel individual para alcançar um objetivo coletivo. Nossos alunos brilham em cada apresentação e mostram evolução diária”, destaca Arthur Beltrame, professor e jornalista do Instituto Baccarelli.  

Jovens da comunidade tiveram suas vidas tocadas pelo projeto e através da música transformam o cenário a sua volta e hoje expressam um diálogo de verdade com a comunidade e o público externo. Mais do que ensino musical, os alunos têm a oportunidade de identificar sua capacidade de fazer além do mundo em que vivem e conquistar o mundo a fora. “O projeto vai além da música e tem um papel essencial na vida de cada aluno. Todos que se formam, saem cientes de que podem seguir o caminho que escolheram. A transformação social é completa, dentro e fora de casa”, completou Arthur. 

O projeto tem um valor imensurável para a comunidade e trouxe grandes oportunidades para o desenvolvimento pessoal e profissional na música erudita. Com a direção artística de seu maestro titular, Isaac Karabtchevsky, e com o patrono indiano Zubin Mehta, que visitou a instituição em 2005 a orquestra tem feito a transformação social da comunidade. A trajetória do instituto tem sido até agora o de abrir portas e caminhos. Com a rápida transformação das coisas, o Baccarelli abre uma janela larga para que todos os jovens da comunidade de Heliópolis possam enxergam um horizonte além da favela.